Por Pascale Pfann
“Juntos somos mais fortes!” Essa é a filosofia do mineiro Gleycon Silva, um líder nato, não só porque está sempre disponível e oferecendo sugestões, mas também pelo sorriso largo e contagiante, mesmo quando o assunto é muito sério e complexo.
Aos 33 anos, o mestre em Ciências Ambientais não quis deixar morrer a sementinha de toda a experiência adquirida e do conhecimento ambiental e resolveu espalhá-la para a jovem geração, em projetos de inclusão. Os projetos se sucedem em todas as frentes: de preservação da Natureza e da Agricultura. Educação Ambiental na Escola, Implantação do Sistema Agroflorestal, de Meliponicultura como Empoderamento Feminino e junto aos pequenos cafeicultores orgânicos. Por enquanto, tudo em Minas Gerais, Estado onde nasceu e foi criado.
Ele quer levar o conhecimento de forma simples e clara para que todos possam se envolver no dia a dia e contribuir para um planeta mais sustentável e equilibrado”. Está dando certo. Ele vem realizando palestras em diversas escolas, famílias das crianças e adolescentes, e junto aos produtores rurais. Até agora, o alcance chegou a mais de mil pessoas.
O sonho dele não para por aqui: ele pretende desenvolver hortas e pomares urbanos para ajudar no combate à fome e, ao mesmo tempo, criar mais áreas verdes nos centros urbanos. O retorno por enquanto é espiritual. “Eu quero que as pessoas compreendam que não existe outro planeta. Só existe este aqui, que é maravilhoso e merece ser respeitado e amado!”
Leia a entrevista, a seguir:
Fact Mundi: “Qual é sua idade? (Nossa, de cara! rsrs) Se não quiser, não precisa responder.”
Gleycon: 33 anos.
FM: Fale um pouco sobre a sua trajetória. Você é nascido e criado em Minas Gerais?
G: Sim. Eu nasci e fui criado em Minas Gerais. Sou Gestor Ambiental, Pós-Graduado em Docência na Educação Profissional Tecnológica e Mestre em Ciências Ambientais. Acabei de ser aprovado para fazer doutorado em Manaus, no INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), no programa de Ecologia, Agroecologia, de polinização entre as paisagens monocultivo e agroflorestal (sistemas onde o produtor faz consórcio, pode plantar uma espécie específica e principal – copiando o que a natureza faz dentro de um cultivo). Por enquanto, farei o curso à distância, por causa da pandemia da Covid-19. Mas logo estarei lá, realizando as atividades normalmente.
FM: Fale sobre a sua experiência profissional.
G: Sou pesquisador do Grupo de Estudos em Planejamento Territorial e Ambiental (GEPLAN – IF Poços de Caldas). Também produzo conteúdo para a Revista Eletrônica “A Escola Legal”, dou aulas práticas e teóricas em Cursos de Meliponicultura, como ferramenta de Empoderamento Feminino. Além disso, sou consultor em Meliponicultura, na Coopfam (Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região) e colaboro para o Núcleo de Estudos em Agroecologia e produção Orgânica (NEAPO – IF Machado).
FM: Qual é a diferença entre apicultura e meliponicultura?
G: A diferença é que a apicultura trabalha especificamente com abelhas africanizadas, que têm ferrão. A meliponicultora é a criação e o manejo do grupo de meliponídeos, abelhas nativas que vivem de forma social, mas têm o ferrão atrofiado. Nós criamos abelhas do nosso local ou do sudeste ou sul de Minas e pensamos na preservação e conservação das abelhas nativas.
FM: Qual é sua filosofia?
G: Juntos somos mais fortes! Minha intenção é levar conhecimento de forma simples e clara para que todos possam se envolver no dia a dia e contribuir para um planeta mais sustentável e equilibrado para todos.
FM: Você iniciou sozinho um projeto de cidadania ecológica. Pode falar mais sobre essa iniciativa?
G: Sim, claro. Eu comecei trabalhando com empoderamento feminino, um projeto que, além de preservar as abelhas, permite gerar renda, usar em outras práticas como a culinária, e que reforça a autoconfiança das mulheres. A partir dessa inspiração, eu tive a ideia de levar esse conhecimento para os produtores rurais locais, pois muitos não têm a compreensão do que são abelhas e polinização. Entrei em contato com a Coopfam, que aprovou o projeto e destinou uma verba. Estamos trabalhando no projeto, há mais de 1 ano. Infelizmente, a pandemia atrasou tudo e só agora terminamos os cursos teóricos para os cafeicultores orgânicos. São 15 famílias de pequenos produtores de café. Eles aprendem desde o que é uma abelha, como elas produzem o mel, a legislação específica e como podem usá-las em benefício próprio.
FM: Por que as abelhas são importantes para os produtores rurais?
G: As abelhas têm muitas vantagens para os produtores rurais e para a natureza. Eu trabalho com as abelhas nativas, sem ferrão, que não exigem um grande investimento para sua implementação. Basta uma caixa e os cuidados específicos. Esses cuidados são mais intensos, no início, mas, depois, é só ter uma boa manutenção quinzenal e elas conseguem se manter sozinhas. A maioria dos produtores rurais não tem noção do quanto as abelhas dão de ganho, até no bolso deles. Alguns chegam a ter até 30%, 40% ou 50% por cento de ganho sobre a produção normal. Além disso, elas são benéficas para o meio ambiente, o que permite o desenvolvimento da diversidade na região.
FM: Como foi a receptividade dos produtores de café?
G: No início, eles não entenderam direito, mas percebi uma “entrega” muito grande. Todos se dispuseram a colaborar. 13 dos 15 produtores (famílias de produtores rurais) já são orgânicos e dois estão em fase de transição para se tornarem orgânicos. A grande vantagem é que o sistema é barato. Essas abelhas não têm ferrão e não é preciso de equipamento especial para lidar com elas.
FM: E você consegue conciliar todas essas atividades com o seu trabalho?
G: Bem, nós estamos a uma distância de 200km, aproximadamente, mas vou de 15 em 15 dias ao município de Poço Fundo para dar as aulas teóricas. Com a pandemia, não foi possível iniciar a parte prática. Neste momento, eles estão na “apanha” (no jargão, época de colheita do café). De final de maio até início de setembro é a colheita. Então, teremos que esperar o fim de setembro para recomeçar. A partir de outubro, cada agricultor receberá 5 enxames e terá até fim de maio para instalar todo o processo. Daí em diante, o enxame seguirá sem muitos cuidados e necessitará apenas de uma manutenção quinzenal ou mensal. Quando eu começar as aulas presenciais de doutorado, ficarei apenas como consultor. Mas também levarei o projeto em Manaus! Vamos em frente!
FM: Qual é o alcance da sua atividade?
G: Nunca parei para contabilizar o alcance, mas contabilizando as palestras em diversas escolas e as famílias das crianças e adolescentes com quem trabalhei, assim como as famílias dos produtores rurais e das mulheres do Empoderamento Feminino, creio que sejam mais de mil pessoas alcançadas. Mesmo fazendo grande parte disso de forma voluntária e com pouquíssimos recursos, saber que estou contribuindo para um mundo melhor e, de alguma forma, para a conscientização ambiental das pessoas, o principal retorno que tenho é a paz interior e a felicidade de estar cumprindo o meu dever como cidadão!
FM: Esse era o seu sonho, ao criar esse projeto?
G: Sim. Ver um mundo melhor, poder contribuir de alguma forma para que as pessoas possam sentir a beleza da vida e compreender que não há um lá fora e que esse maravilhoso planeta merece ser respeitado e amado!
FM: Tem outros sonhos?
G: Sim, quero atingir mais pessoas, quero poder ter mais recursos futuramente e desenvolver projetos de hortas e pomares urbanos como forma de combater a fome, além de contribuir para mais áreas verdes nos centros urbanos.
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