Por Pascale Pfann
Uma pesquisadora do Centre national de la recherche scientifique, o CNRS, na França, estudou o comportamento dos jovens que moram em residências estudantis ecorresponsáveis para saber qual é a sintonia deles com a necessidade de se adaptar à nova realidade climática e com o consumo responsável. A pesquisa foi encomendada pelos administradores de uma residência estudantil ao laboratório PRINTEMPS, do Centro de Pesquisas do CNRS, e durou 1 ano. Os resultados mostram que há uma conscientização crescente da necessidade de adotar novas atitudes, mas que a motivação ainda continua sendo o aspecto financeiro. Houve reuniões com os jovens, questionários enviados online e interações via redes sociais. No balanço final, o que valeu foi não somente a enquete, mas também uma missão de educação e de sensibilização dos jovens entre 18 e 21 anos.
A pesquisa de Géraldine Comoretto, pós-doutoranda em Sociologia, mostrou que os jovens que habitam residências universitárias são mais orientados por critérios econômicos do que pelas preocupações ecológicas. Apesar da grande preocupação dos jovens com a questão ecológica, eles ainda mantêm um comportamento segundo um modelo consumista. Tal atitude é mais frequente entre os jovens que ainda moram com os pais ou em residências universitárias e não têm atividade remunerada.
A residência estudantil estudada tinha as seguintes características:
- construída em 2017
- 147 alojamentos
- obteve o certificado BEPOS, que significa “construção de energia positiva”. Ou seja, a energia consumida pelo edifício deve ser inferior à quantidade de energia renovável que produz por meio dos seus equipamentos:
- revestimento isolante de madeira
- painéis fotovoltaicos
- sistema de reciclagem de águas usadas
Detalhe: o certificado leva em consideração os moradores do prédio, ou seja, os usuários do prédio constituem um critério de avaliação do sucesso do projeto.
Resultados
De todos os estudantes ouvidos, metade considera ótimo morar em uma residência ecorresponsável:
50% metade diz que é ótimo morar numa residência ecorresponsável, |
25% acham que não muda no dia a dia |
25% acha bom, mas ainda há mais o que fazer pelo meio ambiente. |
Os itens principais observados pelos estudantes foram, em ordem de importância:
- Alimentação e reciclagem de resíduos e o desperdício
- Gastos com energia: água, eletricidade e aquecimento
- Transportes
FRANÇA – CONSUMO CONSCIENTE EM RESIDÊNCIA ESTUDANTIL
25% dos estudantes se preocupam com o consumo, mas não consideram esse item uma prioridade |
25% consideram que é uma prioridade |
70% dos estudantes se importam com o consumo consciente |
30% deles não se importam |
Geralmente os estudantes que se preocupam em mudar as práticas de consumo, especialmente de alimentação, vêm de uma classe superior, são mulheres ou têm um maior nível de estudos.
HÁBITOS ALIMENTARES
50% dos estudantes mudaram os hábitos alimentares e de transporte por razões ecológicas |
25% consideram que é uma prioridade |
35% um pouco preocupados |
CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA DE FAMÍLIA
Para a maioria dos estudantes, parece óbvio apagar as luzes e fechar a torneira na hora de escovar os dentes: é a consciência ecológica. Mas vale lembrar que, como eles não pagam as contas de luz nem de água, têm menos preocupação com esses itens. Segundo a pesquisa, se pagassem, prestariam mais atenção ao consumo. Por outro lado, como o consumo alimentar tem um impacto direto no bolso dos estudantes, esse item acaba sendo relevante para eles. A grande maioria afirmou que sempre está atenta à questão da reciclagem. Eles foram sensibilizados para a causa desde criança e continuam mantendo na residência estudantil.
O estudo chegou à conclusão de que o mais difícil para os estudantes é agir. Consciência, eles já têm. “O discurso da juventude está imbuído de uma vontade de agir, mas eles se mostram meio desanimados diante de um problema cuja dimensão foge do alcance deles”, aponta o estudo. A sugestão é diversificar ainda mais os residentes. Não apenas em termos sociais, mas também de faixa etária e de curso escolhido para sensibilizar um público estudantil mais heterogêneo e, assim, oferecer aos jovens de origens e opiniões diferentes a oportunidade de se encontrar, interagir e debater sobre temas que não afetam todos da mesma maneira.
Foto de capa: Gerd Altmann por Pixabay
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