Ar condicionado: vivendo com o inimigo

Por Pascale Pfann

Os aparelhos de ar-condicionado deixaram de ser um conforto e se tornaram indispensáveis, no mundo atual onde as temperaturas superam facilmente os 40°C. Mas, ironicamente, eles também ajudam a esquentar o planeta. Isso se dá por três razões: os fluidos refrigerantes que possibilitam esfriar o ar emitem gases de efeito estufa quando entram em contato com a atmosfera; os aparelhos de ar-condicionado também atuam como fonte de calor, pois expelem o calor que absorvem do ambiente; e porque consomem muita energia para funcionar.

Sistema de refrigeração no topo de um prédio: cena comum nas metrópoles modernas.
Foto de Sergei Akulich no Pexels

Segundo a Agência Internacional de Energia, a demanda mundial por aparelhos de ar-condicionado passará de 1,6 bilhão, em 2018, para 5,6 bilhões, em 2050.

Mundial do Qatar: ar condicionado nas ruas

O Qatar é um dos países mais quentes do planeta: no verão, as temperaturas alcançam facilmente os 46°C. E é lá que será realizada a próxima Copa do Mundo de futebol. Mas o país já se preparou e instalou ar condicionado até nas ruas e em instalações ao ar livre. Os estádios de futebol que receberão os próximos jogos da Copa do Mundo, em 2022, também estão equipados com um sistema de refrigeração dentro e do lado de fora. Por exemplo, no estádio Al Janoub, embaixo dos assentos, há saídas de ar frio à altura dos pés que mantêm a temperatura entre os 24 e 26°C . Junto ao gramado, também foram instaladas várias saídas de ar condicionado de dimensões iguais às de uma bola de futebol. Os sensores espalhados pelo estádio captam as temperaturas e ajustam o fluxo de ar a partir de uma sala de controle.

Restrição dos HFCs

O ano de 2021, que ainda está na metade, já registrou recordes absolutos de temperatura em várias regiões do mundo, da África ao Canadá. A procura por refrigeradores de ar também resultou em recordes de consumo de energia elétrica, em alguns países, como Estados Unidos e Marrocos (em francês), por exemplo.

Em maio passado, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) anunciou uma nova regulamentação para reduzir drasticamente a produção e o uso de hidrofluorcarbonetos (HFCs), nos próximos 15 anos. Os HFCs são usados para refrigeração em geladeiras, freezers e aparelhos de ar-condicionado. Embora não causem danos à camada de ozônio, eles têm um elevado potencial de efeito estufa, o que aumenta o aquecimento global.

No Brasil, está parada na Câmara dos Deputados a ratificação da Emenda Kigali ao Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio. Mais de 120 países já aderiram ao compromisso, que apresenta um cronograma de redução dos usos dos HFCs. A China assinou por último, em junho de 2021. Os países que ratificaram a emenda passam a ter acesso aos recursos do protocolo para adaptação dos processos industriais e capacitação de mão de obra. No Brasil, esses recursos seriam da ordem de US$ 100 milhões, destinados a indústrias de capital nacional para se adaptarem às novas exigências.

Japão limita ar condicionado desde 2005

Desde 2005, o Japão se alinha com medidas menos poluentes para enfrentar o calor. No verão daquele ano, lançou a campanha “Cool Biz”, para que as pessoas usassem roupas mais leves no trabalho e evitassem assim o uso excessivo do ar condicionado. A experiência é repetida todos os anos, com grande adesão da população. Muitos trabalhadores passaram a usar camisas de manga curta ou sem paletó, nos escritórios. O governo também ordenou que os aparelhos de ar-condicionado só podem ser ligados quando a temperatura alcançar 28°C. Em 2021, o “Cool Biz” vigorará até o fim de setembro.

Cartaz da campanha “Cool Biz”, na cidade de Hokuei, no Japão.
Roupas leves para enfrentar o calor e evitar o ar condicionado.

Foto de capa: Tinou Bao from San Francisco, USA, CC BY 2.0

Fonte: France Info, EPBR, Câmara dos Deputados, ICS

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