Por Pascale Pfann
Manter viva uma das obras de maior relevância do mestre impressionista Claude Monet, em meio às mudanças climáticas, não é para qualquer um. Os jardins exuberantes e o lago das ninfeias, que emolduram a casa onde o pintor morou, estão exigindo muita inspiração e versatilidade de Jean-Marie Avisard, o jardineiro-chefe da Fundação Monet, responsável pelos espaços verdes da propriedade.
Giverny, 1883
O mestre que criou sua fonte de inspiração
Em 1883, quando Claude Monet se mudou para a casa recém-comprada, em Giverny, no norte da França, o terreno era um terço da área atual e constituído apenas de árvores frutíferas. O lago das Ninfeias, cenário que inspirou tantas obras do artista francês, nem existia. Mas Claude Monet provou que, além do talento extraordinário para a pintura, também tinha o “dedo verde”. Com muita imaginação, dedicação e cuidados cotidianos, o mestre Monet transformou o espaço em um jardim único, referência botânica e artística mundial. Com o tempo e a dedicação do pintor, a propriedade ganhou vários espaços floridos, e um lago que se tornou famoso em 300 quadros pintados com as musas aquáticas do impressionista, as ninfeias.
Mas Claude Monet nem fazia ideia do que estava por vir e que um novo mestre teria que intervir para manter sua obra viva e luxuriante.
Giverny, 2022
Os turistas reocupam aos poucos os corredores floridos em frente à casa de Monet e as trilhas que levam às plantas aquáticas, um pouco mais abaixo, após o fim das restrições ligadas à pandemia do Covid-19. Segundo ponto turístico mais visitado da região da Normandia, após o icônico Monte Saint-Michel, os jardins de Monet recebem em média 700 mil visitantes por ano (dados de 2019) e são classificados como monumento histórico da França.
para preservar a obra viva do mestre Monet e continuar impressionando os visitantes. Foto de Andrea Holzmann.
Uma grande responsabilidade que pesa sobre os ombros do jardineiro-chefe da Fundação Claude Monet, Jean-Marie Avisard. Com 30 anos de experiência na residência do mestre impressionista, ele cumpre a missão de perpetuar “o espírito de Monet”, usando como referências fotos antigas e quadros. “A ideia é respeitar a história trabalhando com as plantas que existem atualmente. Pois não sobraram muitas plantas da época do Monet”, afirma o jardineiro.
Em sintonia com os novos tempos, ele tenta reduzir ao máximo o uso de tratamentos químicos nas plantas. “Queremos chegar a 100% orgânico”, espera o jardineiro-chefe, que só abre uma exceção para as estufas, “pois não há outra saída”.
E é naturalmente que a equipe de jardineiros lida com as consequências das mudanças climáticas. Jean-Marie Anvisard confirma que os últimos invernos têm sido mais amenos. “As glicínias, por exemplo, está brotando mais precocemente. E isso não é bom, pois a deixa muito vulnerável às últimas geadas da primavera. Há dois anos que a floração tem sido muito danificada, e temos de prever formas de protegê-la”, preocupa-se ele.
Jean-Marie também observou uma maior frequência de temporais, cada vez mais violentos, o que os faz repensar no tamanho das árvores, sobretudo no jardim d’água, o das ninfeias. E no verão, quando o solo fica mais seco, ele afirma que o sistema de rega também foi aperfeiçoado, pois os períodos de seca também estão mais frequentes.
Há também outro grande problema, diz Jean-Marie Anvisard: “O lago das ninfeias tem sofrido um impacto indireto. Na verdade, o problema são os ‘ragondins’ (NDR: em português, caxingui ou ratão-d’água, espécie de roedor que vive em lagoas e rios). Com invernos mais amenos, eles comem os brotos florais e as folhas. Em 2022, assistimos a uma invasão sem precedentes”, alarma-se ele.
Para lidar com esses e outros problemas, uma equipe de onze jardineiros permanentes fica de prontidão, ajudada por um grupo de técnicos sazonais e de estagiários. Monet podia cuidar do seu paraíso florido sozinho ou com alguma eventual ajuda, mas, atualmente, para que esse “jardim-museu” continue a “impressionar” os visitantes, é preciso juntar esforços.
Fontes: Fondation Claude Monet, Libération, Le Démocrate vernonnais