Foto de Nikolaos Kotopoulis, via Wikimedia Commons
O aprendizado fora das salas de aula ganha força como forma de reduzir o contágio pelo coronavírus e para uma maior integração à natureza.
A ideia não é nova. No início do século 20, os pedagogos da nova educação passaram a defender aulas em locais fechados “apenas para os dias de chuva”. De lá para cá, essa “nova” ideia não pegou. A maioria das escolas não aderiu ao novo conceito, por discordarem e por não terem o apoio dos pais, hesitantes quanto à eficácia desse ensino diferenciado.
Então, veio a pandemia da Covid-19 e foi preciso se adaptar. Algumas escolas optaram por dividir turmas e dar aulas em dias alternados, outras levaram o quadro-negro para áreas abertas, jardins, praças ou parques.
Organizações internacionais para crianças e jovens, como a UNICEF, também sugeriram medidas semelhantes. Há um ano, o Fundo das Nações Unidas para a Infância publicou um documento orientando as escolas a priorizar a divisão das turmas em dias alternados e incentivando-as a realizar aulas ao ar livre.
Os países escandinavos, a Holanda, os Estados Unidos, entre outros, já estão ensinando fora das salas de aula. Isso já acontecia, antes mesmo da pandemia. Na França, o ministério da Educação tem apoiado as iniciativas locais adotadas em algumas cidades como Montpellier e Paris.
A Escola na Natureza: do passado para o futuro
As salas de aula ao ar livre não são uma criação recente, mas voltaram a ganhar adeptos, no início do século 20, quando especialistas da nova educação defenderam aulas em locais fechados apenas para dias de chuva, diz Sylvain Wagnon, professor em Ciências da Educação na Universidade de Montpellier, na França, em entrevista à rádio francesa France Culture, “Mas não significa que vamos ficar o tempo todo fora das salas de aula“, acrescenta.
Para Sylvain Wagnon, a escola fora das salas de aula não só é útil para diminuir a circulação do coronavírus na localidade, como também possibilita o combate ao sedentarismo e tem virtudes educacionais. Além disso, a relação com o professor muda e, para o aluno, há muito mais experimentação, observação, prática e uma estrutura pedagógica de verdade. “Tudo isso possibilita o desenvolvimento de uma educação integral levando em consideração um indivíduo como um todo: o intelecto, o corpo e os sentimentos”, afirma Sylvain.
Para o professor, as iniciativas locais, como as hortas cultivadas no pátio da escola, são bastante interessantes porque são um exemplo concreto de que esta pedagogia pode ser feita na cidade. Não se trata apenas de reformular as escolas da área rural, mas também as das áreas urbanas.
AJUDA NO COMBATE À EVASÃO ESCOLAR
Sylvain diz ainda que as escolas ao ar livre são uma forma de democratização social, pois permitem uma espécie de equilíbrio entre o conhecimento intelectual e os desenvolvimentos físico e emocional. “Assim, os alunos são capazes de recuperar a autoconfiança e a autoestima, o que lhes permite processar melhor o aprendizado.”
TRÊS BONS ARGUMENTOS PARA AULAS AO AR LIVRE
- Experimentar concretamente o que é estar na vida tal como ela é, participar do mundo ativamente.
- Poder observar algo real com o qual se está tendo contato. É diferente falar do céu em um livro de explicá-lo olhando-o diretamente.
- Desenvolver valores como os da cooperação e da ajuda mútua entre os alunos adquirindo consciência dos próprios limites, além do desenvolvimento de uma autonomia forte.
De Pascale Pfann
Fonte: France Culture, The Conversation