Não há o que comemorar no Dia Mundial do Meio Ambiente.
Esse foi o desabafo da líder e defensora dos direitos indígenas, Alessandra Korap Munduruku, nas redes sociais.
Por Pascale Pfann
Apesar de não ter o que comemorar, Alessandra Korap pediu a proteção do meio ambiente, posicionou-se contra os projetos de lei 490 e 191 (veja o que significa cada um, abaixo) e lançou um apelo ao STF para não tirar os sonhos dos filhos e netos e de outros povos indígenas que também aguardam a demarcação de suas terras.
PL 490 – Demarcação de terras indígenas | Proposta que pretende tirar a competência de demarcação as terras indígenas da União transferindo-a para o Legislativo. Permite também que o governo se aposse das chamadas terras “reservadas”, segundo Estatuto do Índio, para assegurar a sobrevivência física e cultural de uma comunidade. “A demarcação das terras indígenas não se limita à política indigenista. Trata-se de matéria que ultrapassa os limites da política indigenista e atinge interesses diversos.” Esses interesses seriam “faixa de fronteiras, de propriedades privadas destinadas à produção agropecuária e outras atividades produtivas importantes… aquelas ocupadas por obras de infraestrutura, como estradas, redes de energia elétrica e telefônica”, entre outros. O projeto chegou a entrar na pauta da Câmara, no final de maio, mas foi retirado por pressão de parlamentares e da sociedade civil. |
PL 191 – Mineração em terras indígenas | Defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, desde o início do mandato e proposto pelo Executivo no início de 2020, libera atividades econômicas como a mineração em terras indígenas. O projeto foi elaborado sem participação dos povos indígenas e está entre os PLs que Bolsonaro considerou como prioritários para apreciação da Câmara dos Deputados, no início de 2021. |
Quem é Alessandra Korap MDK ?
Alessandra é líder e defensora dos direitos indígenas, em especial do seu povo Munduruku, que fica na bacia do rio Tapajós, no estado do Pará. Ela se destaca por denunciar as invasões de seu território, a extração ilegal da madeira e o garimpo ilegal, na Amazônia.
Em entrevista ao jornal Info Amazônia, a líder indígena disse que tudo começou quando se tornou professora da aldeia onde mora, na praia do índio, perímetro urbano de Itaituba. “Eu era muito tímida, no início, mas não desisti”, diz ela. Ela viu sua cidade ser tomada pelos grandes empreendimentos e seu povo perder o direito de acesso a alguns lugares onde não havia mais floresta: “A própria casa de palha, a gente começou a não ter mais acesso às palhas, lá onde foram criados portos e fazendas.” Então, ela achou que era hora de fazer algo. E fez. “Os caciques começaram a me observar. Eu tava ali presente, ia para as reuniões, assembleias, ficava só ouvindo. Aí, no início, ficava com vergonha. Mas me lembrava das crianças e me motivava a falar. Qual será o futuro das crianças ?”
Foi uma honra que ter ganhado um prêmio desse, assim vou poder ajudar meus parentes que tantos necessita,ajudar associação indígena Pariri,sempre foi uma luta coletivo e sempre será em pró em defesa da Amazônia👏 https://t.co/zbEikafyoN
— Alessandra korap Mdk (@Alkorap1) October 12, 2020
Alessandra Korap fechou estradas, movimentou a comunidade, conseguiu ser ouvida. Foi a primeira mulher a coordenar a Associação Indígena Pariri, que representa as famílias de dez aldeias da região do Médio Tapajós, no Pará. Em 2020, recebeu o prêmio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos. A organização tem tradição de homenagear figuras que lutam por causas sociais. Nas redes sociais, ela agradeceu o carinho e o reconhecimento e afirmou que os recursos do prêmio de 30 mil dólares ajudarão a Associação Pariri.
Para Alessandra Korap, a situação piorou muito com a pandemia do Covid-19. “A situação piorou durante a pandemia. Os garimpeiros entraram, os grileiros entraram no território e muitos adoeceram por causa desses que invadiram”, emocionou-se ao comentar a situação à InfoAmazonia. Segundo Alessandra, mesmo tendo denunciado ao Ministério Público Federal, ninguém do órgão foi lá tirar os invasores. “A gente viu a própria Funai incentivando as pessoas a plantar soja, a desmatar e até na mineração no território”, lamenta ela. “Se o índio não tiver a terra, onde é que ele vai viver, onde que ele vai morar? É madeira, fazenda e soja. Só tem plantação de soja e tá avançando cada vez mais. “
Mas as dificuldades não desanimam a líder Munduruku, ao contrário. “Não posso ficar sozinha em casa, escondida. Tenho que ir lá dar ajuda. Se eu morrer, pelo menos, eu fiz alguma coisa. Não podemos entregar o nosso rio, não podemos entregar a nossa casa.”
Fonte: InfoAmazonia. org, Agência LUPA, Carta Capital, Câmara dos Deputados, redes sociais