A AIE, Agência Internacional de Energia (IEA – International Energy Agency) divulgou hoje um “roteiro” a ser seguido para zerar todas as emissões de gases poluentes no mundo até 2050, o “NetZero2050Roadmap”.
No pronunciamento feito ao vivo e transmitido pela internet, hoje de manhã, o presidente da AIE, Fatih Birol, apelou para que todos os líderes mundiais colaborem na luta contra as mudanças climáticas. Ele afirmou que “há um enorme fosso entre a retórica e a realidade” e que este ano deve ser um dos piores em matéria de emissões de CO2. “Nós fizemos este relatório para mostrar aos tomadores de decisão que o setor de energia deve sofrer uma transformação total até 2050. Pois, até agora, muitos deles não compreenderam bem isso”, lamentou Birol.
Fatih Birol lançou um dever de casa para a sociedade, os governos, a indústria, enfim, para todos, e o dividiu em três tarefas:
- Tirar o máximo proveito das opções de energia limpa existentes. “A energia solar reina no mercado elétrico, ao lado da eólica, onshore e offshore, a eficiência energética, os carros elétricos, as usinas nucleares (em alguns países). Devemos aproveitar ao máximo a tecnologia disponível. Não a usamos como deveríamos.”
- Precisamos apertar o botão mágico da inovação. Além das tecnologias existentes, precisamos de outras tecnologias para reduzir as emissões até 2030… mais avançadas, diferentes aplicações de hidrogênio ou captura direta, entre outras. Existem muitas tecnologias e os governos e outros precisam ser estimulados a torná-las prontas para o mercado. Especialmente para o setor industrial ou o transporte de longo percurso como a aviação, a navegação e outros.
- Reduzir substancialmente o uso de combustíveis fósseis.
REAÇÕES AO RELATÓRIO DA AIE
Vários grupos e ativistas ambientais saudaram o pronunciamento do presidente da AIE, mas também fizeram críticas. A jovem ambientalista sueca Greta Thunberg comentou nas redes sociais o relatório divulgado pela AIE : “Sinto muito ser estraga prazeres, mas ‘de acordo com a IEA, a área total de terra voltada para a produção de bioenergia precisaria aumentar em 25% para chegar a 410 milhões de hectares em 2050. É uma área do tamanho da Índia e do Paquistão, juntos’.”
A diretora-executiva do Greenpeace, Jennifer Morgan, recebeu muito bem a notícia: “Finalmente, a AIE está começando a entender (o problema)! É uma grande vitória para quem vem pressionando a AIE para alinhe as suas análises com o limite máximo de 1,5 grau C.” Mas fez ressalvas: “A AIE precisa colocar as soluções ecológicas no centro das discussões. Ou seja, sem soluções falsas como a CCS (captura e estocagem de carbono), gás fóssil ou biocombustíveis.”
O climatólogo e diretor do Centro para o Clima do Imperial College London, Joeri Rogelj, elogiou o relatório e considerou um avanço para o enfrentamento da crise climática: “Agora podemos começar a discutir se e como a bioenergia, a CCS, o nuclear, a mudança de comportamentos e outras medidas do roteiro da @IEA serão realizadas.
O enviado especial para o Clima dos EUA, John Kerry, aprovou o relatório da AIE e reafirmou a necessidade de apoiar as tecnologias existentes para reduzir as emissões até 2030 e desenvolver, comprovar e avançar nas inovações necessárias para a descarbonização total até 2050.
Após a Assembleia Geral Anual dos acionistas da Shell, realizada hoje, a empresa se posicionou nas redes sociais sobre o “roteiro” da AIE: “Hoje, os nossos acionistas demonstraram seu forte endosso à Estratégia de Transição de Energia da Shell, com mais de 88% dos votos expressos a favor de nossa estratégia.”
OUTROS “MARCOS” PRINCIPAIS ABORDADOS NO RELATÓRIO PARA ALCANÇAR A META DE ZERO EMISSÕES:
-definição clara de 1,5 grau C como meta para a elevação máxima do aquecimento do planeta até 2050, em comparação com a época pré-industrial;
-cessação de investimentos em novos projetos de exploração de combustíveis fósseis, a partir de agora;
-cessação de investimentos em novas usinas de carvão não reduzidas, a partir de agora;
-fim da comercialização de carros de passageiros com motor de combustão interna até 2035;
-aumentar o investimento anual em tecnologias que envolvam baixa emissão para US$ 5 trilhões (R$ 26,3 trilhões) até 2030. Atualmente, são cerca de US$ 2 trilhões (R$ 10,5 trilhões), segundo o relatório;
-Reduzir a oferta mundial de combustíveis fósseis no mundo dos atuais 80% para 20%, em 2050;
Previsão da AIE:
– Em análise com o FMI, há uma previsão de um crescimento anual do PIB mundial de 0,4 ponto percentual;
– Criação de milhões de empregos em decorrência da implementação da energia limpa (painéis solares, rede de eletrificação, nas indústrias de engenharia, manufatura e de construção para a eficiência energética;
– Haverá também a extinção de empregos, especialmente ligados à tecnologia ou produção de combustíveis fósseis;
– se hoje a energia mundial é composta 80% por combustíveis fósseis, em 2050, a energia limpa estará dominando. A solar, com 1% de presença no mundo, hoje, passará para 20%, em 2050. Junto com a energia eólica e o hidrogênio, formarão o mix energético de metade do século 21.
Saiba a importância da Agência Internacional de Energia, a AIE.👇
A AIE é uma organização intergovernamental de referência no setor energético, que foi criada em 1974, durante o choque do petróleo que atingiu o mundo inteiro. Seu objetivo primeiro foi assegurar-se de que outra crise como aquela não se produziria, sempre de olho no cenário mundial do setor. Com o tempo sua missão evoluiu e, hoje, a agência não só zela pela segurança energética como também se compromete a fazer uma reflexão ambiental e econômica. Atualmente, 30 países participam da AIE. O Brasil não faz parte como país-membro, mas sim como país “associado”, um status criado em 2015 para ampliar a cooperação da Agência. Além do Brasil, também são considerados países “associados” África do Sul, China, Índia, Indonésia, Marrocos, Singapura e a Tailândia. Anualmente, a organização publica estudos sobre a situação energética mundial. Entre os documentos mais conhecidos está o “World Energy Outlook”, no qual ela traça um panorama sobre o setor energético e emite hipóteses para o futuro.
Foto de capa: Johannes Plenio / Unsplash
Por pascale.pfann@factmundi.com
Fonte: IEA