Destruídas no início dos anos 60 para aumentar o tamanho das terras e assim desenvolver uma agricultura mais intensiva, sua ausência acabou perturbando o ecossistema. Agora, para reverter essa situação, os agricultores voltaram a plantar árvores e arbustos com a ajuda do governo federal.
Por Pascale Pfann
Há cerca de 70 anos, as árvores ou os arbustos eram abundantes na “campagne” (área rural) francesa e formavam figuras geométricas de vários tons de verde, ao serem fotografados do alto. Em certas propriedades, havia até 2 km de cercas vivas.
Na imagem ao lado, o desenho geométrico formado por áreas agrícolas intercaladas com árvores ou arbustos.
Foto de Matthieu Turban/CC BY-SA 4.0
A partir dos anos 60, as cercas vivas foram derrubadas para desenvolver uma agricultura mais intensiva e permitir a passagem de tratores ou máquinas maiores. Durante muito tempo, os agricultores foram pagos para arrancar as árvores ou os arbustos e transformar essa paisagem em uma extensão quase a perder de vista. Em sua maioria, de uma só cor.
60% das cercas vivas desapareceram e a paisagem se tornou praticamente uniforme, com plantações únicas.
Veja na foto ao lado um exemplo de grande extensão de terra agrícola, tendo apenas uma área arborizada ao lado direito.
Foto de Shawn Konopaski/Pixabay
Plantemos cercas vivas
Agora, a ordem é replantar tudo… com a ajuda do governo. A França lançou o programa Plantons des haies (Plantemos Cercas Vivas) que oferece subsídios aos agricultores interessados. O programa prevê a construção de cercas vivas em torno das áreas de cultivo e a instalação de árvores enfileiradas, a chamada “agroforesterie intraparcellaire”(em tradução livre,, agrossilvicultura intraparcelar).
Motivo? Chegou-se à conclusão que as cercas vivas formam um quebra-vento natural, protegem o solo da erosão, retêm a umidade e fornecem fertilidade por meio da umidade das folhas mortas. São também espaço de vida para muitas espécies animais, incluindo insetívoros (sapo, lagarto, melro, joaninha, chapim, etc) e limita os predadores nos campos que faz fronteira.
A ausência delas torna o solo mais seco e sem capacidade de absorver a água da chuva. E é o que tem acontecido, em várias regiões da França. Os temporais atingem essas áreas, o solo não absorve a água, que segue adiante causando destruição por onde passa. Isso causa inundações, fluxos de lama e agrava a erosão do solo. Ao contrário, se houver árvores ou arbustos entrecortando o caminho, a água escorrerá mais lentamente, será retida e absorvida para o subsolo por meio das raízes. O processo permite, inclusive, encher o lençol freático.
O plano governamental é conseguir plantar 7 mil quilômetros de cercas vivas e de árvores intraparcelares entre 2021 e 2022. A medida prevê investimentos não só para os projetos de instalação das plantas, mas também em ações de acompanhamento e de garantias da sua continuidade. Todos os agricultores podem se candidatar à ajuda de custo. Agricultores da região de Auvergne, no centro da França, aderiram ao projeto de replantio. Eles dizem que a medida é boa, mas que as plantas necessitam de uma boa manutenção.
Dentro de alguns anos, quando estas árvores tiverem crescido, a área plantada limitará os danos causados pelo clima. Quando as plantas alcançarem 10 m de altura, formarão uma espécie de quebra-vento e protegerão culturas acima de 100 m. Com isso, a temperatura no campo cairá 2°C e a evaporação da água será limitada, o que é uma grande vantagem quando ondas de calor e secas se sucedem.
Mas não é preciso esperar tanto tempo: o efeito benéfico do replantio é muito rápido. Logo no primeiro ano, essas áreas de vegetação se tornam um local de vida para insetos úteis, que protegem as plantações alimentando-se de pragas como pulgões. Em 10 anos, o número de aves deve quadruplicar e outros animais virão, pois encontrarão um refúgio na grande área de vegetação, que acolherá uma biodiversidade de diferentes animais.
Palha para o gado ou fonte de alimento
Economicamente, as cercas vivas também oferecem vantagens. Seus ramos podem ser triturados e, depois, substituir a palha para acomodar o gado, no inverno. Os agricultores franceses que adotaram a técnica afirmam que não só adquiriram maior autonomia como também estão conseguindo economizar. “Quando há seca, a palha encarece”, diz Yves Étignard, agricultor da Haute-Saône. “Usar as nossas plantas é mais econômico. Além disso, é mais saudável para os animais, pois essa vegetação absorve melhor os excrementos, o que limita a proliferação dos agentes patógenos.”
E as cercas vivas também podem servir de fonte de alimento. “As folhas das árvores ainda verdes são um point de alimentação. Por exemplo, as amoreiras brancas são ricas em proteínas. E tem a tília, o amieiro ou o salgueiro, que possuem propriedades medicinais”, completa Yves.
A manutenção dessas árvores não fica ao acaso. É tudo pensado. Para que toda as aplicações positivas dessas plantas perdurem, elas devem ser devidamente cuidadas. Os agricultores trocam informações e determinam qual é a melhor maneira de cuidar dessas cercas vivas. “O ecossistema que envolve a árvore deve ser cultivado, pois tem um significado não só ecológico, em razão dos habitats que abriga, mas também econômico, com todos os materiais que oferece (aquecimento ou construção). Uma cerca viva deve acompanhar os agricultores de geração em geração”, conclui Yes Étignard.
Fonte: Terre Augmentée-TF1, RFI, La France Agricole, Agroforesterie-Ministère de l’Agriculture et de l’Alimentation
Foto de capa de Phil Dolby on Pxhere