Por Pascale Pfann
“Cada e-mail enviado hoje gera cerca de 20 gramas de CO2”, afirma Loïc Péron, especialista em qualidade de dados da Validity, ao INfluencia. “Se for um e-mail pesado, pode chegar a 50g. Cerca de 30 e-mails enviados por dia equivalem a 1.500km percorridos de carro, em um ano. E uma equipe de 100 funcionários é capaz de gerar, anualmente, em CO2 o equivalente a 14 trajetos de ida e volta Paris-Nova York”, calcula ele.
A “Gigapegada” de carbono
A era digital nos traz inúmeras vantagens: diminui nossos trajetos, acelera a comunicação, facilita a colaboração e o compartilhamento, cria empregos, além de tantos outros benefícios. Porém, como tudo, tem um custo: extingue certas formas de trabalho, isola algumas pessoas, exclui outras e polui. Nem nos damos conta da sujeira que produzimos quando usamos os nossos smartphones, tablets, computadores ou qualquer outro gadget conectado. Mas a nossa pegada ecológica é monstruosa, “gigapesada”: a cada ano, é uma enormidade de novos produtos e modelos eletrônicos, um consumo energético e uma utilização de matérias-primas crescentes, tudo gerando gases de efeito estufa e produzindo resíduos.
Conscientização é essencial
A conscientização digital já começa na forma de lidar com o concreto, que é o produto físico: qual é a necessidade de trocar de smartphone, notebook ou qualquer gadget sempre que um novo modelo é lançado? Para se ter uma ideia, só o fato de aumentar o tempo de uso de um notebook ou tablet de 2 para 4 anos melhora em 50% o impacto no meio ambiente. Mas não basta ser sustentável apenas com o que é tangível. A navegação e o uso da rede também causam um impacto ambiental. A ação é desmaterializada, mas a pegada é real. Quando usamos a internet, raramente lembramos que é preciso haver roteadores, decodificadores, cabos, servidores, unidades de armazenamento e equipamentos de telecomunicação para que a comunicação aconteça. Acrescente-se a isso o consumo de energia e os recursos não renováveis necessários para fabricá-los e fazê-los funcionar. Por isso, é vital saber que esse mecanismo gigantesco não trabalha de graça e que só a conscientização pode limitar a atividade digital predatória.
Quem manda nos seus e-mails é você
Os dados reunidos pela Agência do Meio Ambiente e do Controle de Energia da França, a Ademe, impressionam: eles alcançam a casa dos milhões ou bilhões! Por exemplo, em 1 hora, no mundo, são trocados cerca de 8 a 10 bilhões de e-mails (fora os spams). Em 1 ano, em média, a troca de e-mails no mundo gera 410 milhões de toneladas de CO2 por ano, sem contar os spams. Comparativamente, a aviação global produziu 1,04 bilhão de toneladas de CO2, em 2018, segundo dados do painel Our World in Data. O e-mail nunca foi tão popular! Com isso, torna-se ainda mais urgente a conscientização dos usuários para o uso sustentável desse sistema de comunicação que é mais antigo até que a própria internet.
Organizar a caixa de entrada de e-mails e limitar a pegada de carbono ao usar o sistema não é difícil.
Veja algumas sugestões 👇
Como lidar com os e-mails:
- Faça regularmente uma atualização das suas listas de transmissão
- Envie o e-mail apenas aos destinatários necessários (cada 10 destinatários de um e-mail quadruplicam o impacto ambiental)
- Delete os anexos de uma mensagem ao respondê-la
- Otimize o tamanho dos arquivos que enviará. Prefira arquivos compactados, imagens e PDFs de baixa definição, ou envie um link direcionando para o arquivo
- Caso use um logo na assinatura, transforme o texto e o logo em uma só imagem de baixa resolução
- Se tiver arquivos muito pesados, use um pen drive para armazená-los e transmiti-los
- Limpe regularmente a sua caixa de e-mails e cancele as newsletters ou informativos que não interessarem mais. Alguns aplicativos gratuitos como o Cleanfox fazem isso por você, claro, em troca de dados seus
- A empresa de energia britânica OVO Energy criou uma extensão para o Google Chrome que funciona com o Gmail. Toda vez que você estiver prestes a enviar um e-mail potencialmente desnecessário, uma janela exibirá um lembrete. Se ainda assim, você quiser enviar, vá em frente.
- Outra dica sugerida pela Ovo Energy é fazer uma assinatura com um aviso para evitar o envio de um e-mail onde se lê apenas “obrigado/a”.
- Passo a passo:
- Vá no Gmail 👉 configurações 👉 Assinatura e escreva, por exemplo, “Por favor, considere este e-mail também como um “obrigado/a” antecipado. Todo e-mail tem uma pegada ecológica. Assim, estou contribuindo para um planeta mais limpo.” Ou use outra fórmula, solte a sua imaginação!
- Agora, se você estiver no mesmo ambiente que o destinatário do e-mail, não o envie. Simplesmente, vá até a pessoa, abra um sorriso largo e agradeça pessoalmente.
Claro que deixar de enviar um e-mail dispensável não resolverá a crise climática do planeta, mas “é somente uma ilustração do princípio amplo de que cortar o desperdício de nossas vidas é bom para nós e para o nosso bem-estar. Toda vez que damos um passo adiante para mudar o nosso comportamento, seja enviando menos e-mails ou levando conosco uma xícara de café reutilizável, devemos ver isso como um lembrete para nós e para os outros de que estamos atentos às grandes decisões para a descarbonização”, diz o físico e cientista da computação, Mike Berners-Lee, autor do livro “Não Há Planeta B: um Manual Para Evitar o Fim do Mundo”, um guia prático para ajudar “a Humanidade a prosperar neste – o nosso único – planeta”.
Mais…
Dicas para ser um usuário digital consciente:
- Faça a manutenção regular do aparelho, eliminando programas e arquivos desnecessários ou fora de uso
- Instale proteções contra vírus e malwares (um software malicioso) para evitar bloqueios ou panes
- Limite o número de programas ou abas abertos e sem uso
- Imprima apenas o que for útil e imprescindível
- Ao redigir um documento, faça-o de forma a tornar a leitura agradável e assim evitar que o destinatário imprima o documento
- Poupe energia
- não deixe os aparelhos ligados ou em modo stand-by quando não estiverem em uso
- tire o carregador da tomada quando terminar de carregar
- Localmente ou na nuvem, remova os cookies e o histórico de navegação com frequência
Foto de capa: Miguel Á. Padriñán no Pexels
Fonte: Ademe.fr, INfluencia.net
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