De Pascale Pfann
Os barcos de poliéster fizeram muito sucesso nos anos 70 e 80, mas agora chegam ao fim da vida sem muita esperança de continuar navegando. São embarcações que precisariam de um novo motor e de uma boa reforma, o que é sinônimo de alto custo. Sem comprador, muitos acabam “encalhados” e os proprietários os cedem por um valor simbólico.
Solução em Terra Firme
Por serem fabricados de um material feito à base de plástico reforçado com fibra de vidro, são de difícil reciclagem. Mas o empresário francês Didier Toqué, que fez carreira na valorização de resíduos, viu aí uma grande possibilidade de transformação ecológica e, com mais dois sócios, criou o estaleiro Bathô (inspirado na pronunciação da palavra Bateau, em francês, que significa barco). Uma ótima oportunidade para ele, que faz a reforma dos barcos velhos e invendáveis e lhes dá um fim rentável, e um prêmio de consolação para os proprietários tristes por se desfazerem de seus queridos companheiros de navegação: as embarcações usadas agora se transformaram em inusitados alojamentos de hotéis, campings e até em espaços de co-working totalmente conectados.
O estaleiro Bathô fica na cidadezinha de Rezé, às margens do rio Loire. Criado há 2 anos, o estaleiro “reaproveita” os barcos de lazer em fim de vida ou que foram abandonados. Há 1 milhão de barcos de lazer registrados na França, 40% deles têm mais de 40 anos de existência e idade média dos proprietários é de 65 anos. “Os jovens não querem mais ser proprietários, com a uberização das práticas”. A transformação das embarcações representa uma alternativa à destruição de milhares de veleiros e de outros barcos, nos próximos anos.
Segundo Didier Toqué, começa a faltar espaço no pátio do Bathô para os futuros barcos da terra firme. A empresa vai de vento em popa e está adaptada aos parâmetros da economia social e solidária, que contrata jovens aprendizes ou pessoas com dificuldade de inserção profissional. O segmento social e solidário representa 10% do emprego na França e reúne associações, cooperativas, pequenas ou médias empresas e até grandes grupos. Entre os modelos à espera de lifting tem embarcações que atravessaram da França para a Inglaterra, veleiros que participaram de várias competições ao redor do mundo, barcos de pesca, tem de tudo.
Metamorfose ecológica
Em pouco mais de dois meses de reforma, as embarcações se transformam em alojamentos inusitados em terra firme para particulares, grupos hoteleiros, espaços de co-working ou áreas de lazer para comunidades. Muitos estão adaptados para reuniões de trabalho e totalmente conectados.
Em 2019 o governo francês decidiu financiar a desmontagem dos barcos de poliéster, que é um material não reciclável, e reinseri-los na cadeia de produção. Em média, entre 4 mil e 5 mil unidades são enviadas para o aterro sanitário ou para os centros de incineração, anualmente. O projeto venceu o concurso “Inventemos o Turismo Sustentável”, a partir de sua proposta de economia circular em parceria com agentes da economia social e solidária da região.
O cofundador da Bathô, Didier Toqué, acha que, por enquanto, esta é a melhor solução: “Já que os barcos são habitações sobre a água, por que não transformá-los também em habitat em terra firme e assim prolongar a vida deles? Até o dia em que a ciência descobrir o que fazer com esse poliéster não reciclável e dar-lhe outro destino que não o aterro sanitário ou a incineração”, completa ele.
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