Uma revista francesa caiu na pegadinha de um internauta e se viu obrigada a retirar da internet uma reportagem baseada em informações falsas. O internauta havia inventado uma história para mostrar como é fácil disseminar fake news sobre os franceses muçulmanos. E conseguiu.
Tudo partiu de um tuíte de um tal Morad M., professor de uma escola secundária da cidade de Estrasburgo, denunciando que estaria sofrendo ameaças de alunos por questões ligadas à laicidade e ao islamismo. Mas era tudo mentira. O autor do falso testemunho no Twitter era, na verdade, Malik, que inventou tudo para provar que há preconceito contra os muçulmanos da França. Ele usou uma antiga conta que possuía na rede social, trocou a foto e os dados do perfil. Deu certo. A postagem acabou sendo compartilhada por um militante de extrema-direita e chamou a atenção da revista “Valeurs Actuelles”, que se assume como “de direita”.
O jornalista da “Valeurs Actuelles” entrou em contato com “Morad”, mas não checou todas as informações. Se o tivesse feito, descobriria que as palavras citadas pelo falso professor “shab lbarou Wa l’carabina” eram, na verdade, uma brincadeira com uma música bastante conhecida do cantor argelino Cheb Khaled.
Após a publicação da reportagem no site e nas redes sociais da revista “Valeurs Actuelles”, o autor da pegadinha acabou revelando toda a verdade em um fio do Twitter. Uma hora depois, a revista retirou a matéria do ar e, em seguida, publicou um tuíte: “Em vez de lutar contra o islamismo, certas pessoas preferem enganar a mídia. Aos que riem: será que eles se dão conta da equivalência com muitos casos existentes? Aos nossos leitores: nossas desculpas por esse falso testemunho divulgado.” O caso vem no rastro da tragédia envolvendo o professor Samuel Paty, que morreu decapitado em uma escola do subúrbio de Paris, em 2020, após mostrar aos alunos caricaturas de Maomé publicadas na revista Charlie Hebdo. Depois do fato, vários outros professores denunciaram pressões por parte de alunos contrários a certos temas relativos sobretudo a questões religiosas.
Por Pascale Pfann
Fonte: Le Point, Twitter