Por Pascale Pfann
O crescimento acelerado do e-commerce, alavancado pela pandemia do Covid-19, representou um salto de quase 50% no faturamento do comércio online do Brasil, só em 2020, segundo dados da Ebit/Nielsen. O aumento da demanda teve também um forte impacto no setor de embalagens: enquanto o PIB teve queda de 4,1% em 2020, o setor cresceu 0,5%. No segmento de papel, a alta foi de 9,6%, no primeiro semestre de 2020, comparado com o mesmo período do ano anterior. O papel ondulado registrou um aumento de 24,3%, no mesmo período.
A disparada do setor foi sentida no mundo todo. Só na França, um dos líderes do papel ondulado, a DS Smith, afirmou ter registrado um aumento de 20% a 25%, em 2020.
Euforia para os comerciantes, preocupação para os ecologistas. Afinal, para o produto chegar ao consumidor, existe uma logística que inclui desde o acondicionamento, o transporte e o destino final dado às embalagens depois que a mercadoria é entregue.
Empreendedores franceses sentiram a pressão no setor e já se lançaram em alternativas mais ecológicas. Iniciativas que buscam diminuir o impacto gerado pelo enorme fluxo do e-commerce e de suas embalagens que nem sempre acabam nas usinas de reciclagem.
Pensando fora da caixa
Em uma frente, duas amigas se juntaram e lançaram as embalagens reutilizáveis, duráveis e bem compactas. “Embalagens reutilizáveis por mais de 100 vezes”, esse é o slogan da startup francesa Hipli, criada há apenas 2 anos por Léa Got e Anne-Sophie Raoult. A receptividade foi grande e, de quebra elas ainda se beneficiaram do impulso do comércio eletrônico, desde a pandemia do coronavírus. Isso tudo serviu para a consolidação de seus produtos, segundo afirmam ao site Mr. Mondialisation. Atualmente, a empresa já colabora com mais de 75 marcas têxteis parceiras.
Léa Got e Anne-Sophie Raoult são as duas fundadoras do Hipli. Léa conta como surgiu a ideia das embalagens reutilizáveis: “Fiz uma compra online em um site ecologicamente responsável, mas me senti desconfortável ao ver a caixa de papelão ir para o lixo.”
A solução, para elas, é consumir menos descartáveis e usar os materiais apropriados na fabricação. Com isso em mente, elas reuniram designers, marcas comprometidas com a questão ecológica, profissionais de logística e até funcionários dos Correios da França para conceber o pacote ideal.
E o sistema encontrarado é bastante simples: se você for um particular, basta comprar nas lojas e-commerce de sua preferência e escolher receber a mercadoria na embalagem Hipli reutilizável. Após receber a encomenda e retirar o produto, basta dobrar a embalagem e reenviá-la gratuitamente. A embalagem, então, segue diretamente para um centro de triagem para verificação se não foi danificada e, depois, é preparada para novo envio.
O próximo passo das fundadoras das embalagens é fazer um modelo para o transporte de itens frágeis. Por enquanto, a bolsinha é feita de polipropileno, um plástico que pode proteger contra a umidade, perfurações e rasgos. O material pode parecer poluente, mas as fundadoras garantem que foi a melhor escolha em termos de custo-benefício: “Todas as formas de embalagem produzem um impacto negativo no meio ambiente. Mas tudo que não dura é um problema pior que uma embalagem de plástico que será altamente reutilizada e cuja reciclagem, no final de sua vida, será garantido por nossos parceiros.” A Hipli está disponível em vários países europeus.
Boomerang: o nome já diz tudo
Em outra frente, vem o Boomerang. É um pacote reutilizável e ecorresponsável para o e-commerce. A particularidade dele é ser fabricado com lonas publicitárias usadas. Esse sistema de fabricação parte do princípio do upcycling, que consiste em dar um novo propósito a materiais que seriam descartados para assim reintroduzi-los na cadeia de consumo.
O fundador da startup Ecopack Solutions, o francês Clément Filère, de 27 anos, abraçou a ideia do Boomerang para evitar o desperdício de novos recursos naturais: “Eu uso um resíduo para evitar resíduos”, constata ao site de notícias France Culture. E ele não só contribui para reduzir a pegada de carbono como também gera um impacto social, já que emprega em seu ateliê de produção trabalhadores que estão em processo de reinserção profissional.
Parceria para inclusão de mão de obra local Variedade de modelos disponíveis
A startup reaproveita os painéis de propaganda que foram utilizados em campanhas publicitárias de empresas de eventos, clubes esportivos ou até órgãos governamentais. Grande parte desses painéis acabaria no incinerador, pois a grande dificuldade e o alto custo de reciclagem desse material que mistura têxtil com plástico desestimula a reciclagem. No ateliê da empresa, eles passam por uma boa limpeza e depois são modelados em vários tamanhos.
O material robusto, flexível e impermeável acaba sendo uma excelente opção para a confecção de envelopes destinados à entregas, afirma Clément. Em apenas um ano, garante ele, foram reaproveitadas duas toneladas de material que se transformaram em envelopes ecológicos. “As embalagens que fabricamos é uma opção para consumidores conscientes, que se dispõem a reenviá-las após o uso para serem reutilizadas,” diz, animado. Afinal, desde o lançamento do produto, no início de 2021, o Boomerang já conquistou uma carteira com cerca de 15 clientes, “inclusive de grandes marcas do e-commerce”. É um produto perfeitamente ecológico: “ético, sustentável, circular e social,” resume o fundador.
Fonte: France Culture, Mr. Mondialisation.
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