Primeira-ministra da França se reúne com empresários e insiste na sobriedade energética

Por Pascale Pfann

“A transição ecológica será a condição sine qua non da competitividade das empresas, no futuro. As que não se transformarem verão sua parte de mercado, suas oportunidades, sua atratividade e sua capacidade de contratação se reduzirem até desaparecer. Mas as que se engajarem e investirem na transição ecológica irão crescer, atrair e se desenvolver.” Essas foram as palavras da primeira-ministra da França, Élisabeth Borne, aos empresários, na reunião desta segunda-feira (29/08).

Primeira-ministra da França discursa para empresários do país Foto: gouv.fr

Preparando-se para o pior

Ameaçada de escassez de gás, no próximo inverno, e diante das mudanças climáticas, a França pisa no acelerador para a transição energética. “Podemos fazer da transição ecológica uma oportunidade para a inovação, para o crescimento e para o emprego,” disse Borne, em mensagem de incentivo aos empresários.

E haja incentivo. Na França, o cenário energético não é dos mais animadores: o gás russo teve seu fornecimento reduzido para toda a Europa e está ameaçado de sofrer um corte de 100%; os preços do gás e da energia elétrica dispararam; e o parque nuclear do país, que cobre ¾ da produção elétrica francesa, passa por dificuldades.

“Cada empresa deve se mobilizar e agir.”  

Em seu discurso, Élisabeth Borne pediu solidariedade aos empresários. Ela reconheceu que muitas empresas já começaram a reduzir o consumo de energia, principalmente após o aumento das tarifas energéticas. Mas acenou que é preciso mais e fez um apelo para que cada empresa defina, no próximo mês de setembro, o seu próprio plano de sobriedade. “Se agirmos coletivamente, poderemos superar esse risco de escassez”, afirmou Borne, acrescentando que, “se cada um não fizer sua parte ou se todas as hipóteses desfavoráveis se conjugarem, teremos que impor reduções de consumo.” Mas a primeira-ministra abriu a possibilidade de avaliar exceções para empresas que forem fortemente impactadas pela economia. Ou seja, por enquanto, é economia. Caso não funcione, será racionamento. Ela convidou os empresários para nova reunião, em início de outubro.

A sobriedade energética é assunto de todos

A primeira-ministra afirmou que o governo também está se organizando em várias frentes para tratar da economia energética. Ela disse que cada ministério tem até setembro para apresentar um plano de sobriedade para reduzir o consumo em 10%, no mínimo, nos dois próximos anos.

Mas também ressaltou que a sobriedade é a responsabilidade de todos os cidadãos. Cada um deve se questionar sobre o que fazer para consumir menos, em nível pessoal. Apenas os franceses que vivem na precariedade energética serão excluídos desse esforço comum, para não serão penalizados duplamente. A primeira-ministra adiantou que, nas próximas semanas, será lançada uma campanha de informação sobre os “écogestes”, os gestos ecológicos que cada cidadão deve adotar para economizar energia.

Lixeira para reciclagem em Paris. Um dos “écogestes”. Foto de jean-louis Zimmermann

Soberania energética

Essas medidas todas são apenas uma etapa de mudanças profundas via uma transição ecológica, segundo palavras de Élisabeth Borne. “É preciso haver uma mudança radical. Radical, mas não no sentido de violenta nem de ‘décroissance’ (decrescimento)”. Segundo Borne, essa transição permitirá inovar, transformar os setores existentes e lançar outros para reforçar a soberania e criar empregos. É preciso, segundo ela, traçar “um plano de batalha : o planejamento ecológico”, para reduzir as emissões de gás de efeito estufa em 55% até 2030. Esse planejamento deverá incluir a mobilidade, alimentação, produção, moradia, consumo, e mobilizar todos os ministérios correspondentes. Um calendário será estabelecido com as ações a serem tomadas e seus prazos respectivos.

Já em setembro, as discussões se iniciarão sobre três setores-chaves : o das florestas, que foram duramente atingidas pelos incêndios deste verão; o da água, para lutar contra o desperdício e priorizar as águas usadas, além de pensar em melhorias de algumas práticas agrícolas; e a terceira área, a da produção de energia descarbonizada, em torno do nuclear e das energias renováveis. O objetivo é ter, até o final do ano, uma primeira ideia completa do planejamento ecológico, o qual será compartilhado, depois, com a população, para que ela possa acompanhar o progresso do plano.

Mais de 50 bilhões de euros para a França do futuro

A primeira-ministra reafirmou o apoio aos empresários nessa transição energética. “A transição ecológica será a condição sine qua non da competitividade das empresas, no futuro. As que não se transformarem verão sua parte de mercado, suas oportunidades, sua atratividade e sua capacidade de contratação se reduzirem até desaparecer. Mas as que se engajarem e investirem na transição ecológica irão crescer, atrair e se desenvolver”, afirmou.

Ônibus movido a hidrogênio circula na cidade de Versalhes. O governo francês quer revolucionar a indústria dos transportes com energia limpa.

Dentro do plano de investimento France 2030, que mobiliza mais de 50 bilhões de euros para preparar a França do futuro, segundo palavras da própria Élisabeth Borne, o governo quer bancar a inovação para revolucionar a indústria dos transportes e a agricultura, principalmente. Os setores contemplados deverão incluir o hidrogênio, as energias renováveis, os veículos elétricos, o nuclear, os semicondutores. “Graças ao planejamento e à nossa ação, nós lhe ofereceremos a máxima visibilidade em termos de normas fiscais e de incitação. Graças a esta estrutura clara, as empresas, os bancos e os fundos poderão direcionar maciçamente seu capital para investimentos para o futuro no processo de descarbonização, na dinâmica dos usados ou ainda na economia circular. A transição ecológica deve agora ser um critério essencial em toda decisão de investimento, tanto público quanto privado, e nós os acompanharemos (os empresários) para completar e ampliar a sua ação.”

Segundo Borne, os resultados estão aí: a França já conta com três “gigafactories” de produção de baterias, vários projetos ligados ao hidrogênio, uma taxa de carbono atuante na concorrência de empresas nas fronteiras europeias, além de auxílios a setores em transição e aos trabalhadores cujas profissões serão impactadas pelas mudanças.

Direcionar parte do salário dos diretores à RSE

A primeira-ministra não poupou outras sugestões:

– Para se engajar na transição ecológica, algumas empresas poderiam seguir o exemplo de outras, que destinam parte do salário de seus diretores aos objetivos da RSE.

– Acompanhar os empregados ajudando-os a adotar mobilidades mais limpas

– Incentivar uma menor mobilidade limitando os deslocamentos e favorecendo novas maneiras de trabalhar

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